Literatura, Medicina e Cidadania
Casa das Artes de Arcos de Valdevez
18 de Maio de 2019
Por ocasião do primeiro centenário da morte de Francisco Teixeira de Queiroz, natural de Arcos de Valdevez, o Colóquio Teixeira de Queiroz (1919-2019): Literatura, Medicina e Cidadania pretende homenagear um autor cuja personalidade multifacetada se expressou com brilho nas Letras e na Medicina, entre muitas outras áreas da sua intervenção. Este vulto marcante da sociedade portuguesa de finais do século XIX e inícios do século XX, que chegou a utilizar o pseudónimo literário de Bento Moreno, foi autor de duas importantes séries de romances que fixaram de modo inesquecível a experiência portuguesa finissecular: a Comédia do Campo e a Comédia Burguesa. Estas duas séries romanescas constituem o exemplo português mais notável da ambição literária em representar a totalidade da vida de uma sociedade, revelando estima pelos modelos distantes de um Balzac ou de um Zola.
O amor à terra minhota fez com que as obras de Teixeira de Queiroz, sobretudo as da Comédia do Campo, sejam uma fonte muito rica de conhecimento etnográfico e folclorista oitocentista (como se vê, por exemplo, pelas muitas informações que José Leite de Vasconcelos colheu nessas obras). A formação médica do escritor contribuiu para que muitos dos seus textos expressem com elegância literária os dilemas de uma sociedade que se sentia dividida entre os costumes ancestrais e as inovações técnicas que aconteciam a uma velocidade sem precedente histórico. O romance final da série mais dedicada a assuntos da cidade, com o título A Grande Quimera, já de 1919, é uma profunda reflexão sobre a natureza e o alcance da tecnociência, tema que, um século depois, continua a ser muito importante.
Como se esperaria, a riqueza da obra literária de Teixeira de Queiroz não passou despercebida aos seus contemporâneos, nem aos estudiosos posteriores. Acerca dela encontram-se análises, comentários e reflexões por parte de Júlio Brandão, Ernesto Guerra da Cal, Maria Amália Vaz de Carvalho, Aníbal Pinto de Castro, Augusto de Castro, Joaquim Costa, Jacinto do Prado Coelho, Alexandre da Conceição, Fidelino de Figueiredo, Maria Saraiva de Jesus, Maximiano Lemos, Álvaro Manuel Machado, Joaquim Manso, João Gaspar Simões, Gerald M. Moser, David Mourão-Ferreira, Maria O’Neill, António da Silva Pinto, António Machado Pires, Joaquim Mendes dos Remédios, Óscar Lopes e Júlio Martins, Maria Aparecida Ribeiro, Álvaro Salema, Maria Helena Santana, António José Saraiva, Joel Serrão e Luís Forjaz Trigueiros, só para mencionar alguns nomes.
É, pois, toda esta riqueza que importa revisitar. Não está em causa apenas a justa homenagem a um grande homem de cultura. O final do século XIX e início do século XX continua a ser um espelho importante da vida social portuguesa. Nas páginas de Teixeira de Queiroz encontra-se muito do que é, à falta de melhor designação, a alma portuguesa. Sendo fiel ao torrão materno, enfrenta de peito cheio o futuro. Esta é uma lição com valor perene.